Mutação do gene MDR1 em cães
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Felizmente existem medicamentos eficazes contra muitas doenças dos nossos patudos. No entanto, cães que apresentam a mutação do gene MDR1 reagem mal a alguns medicamentos, o que pode ter consequências graves. Neste artigo explicamos o que é a mutação do gene MDR1 em cães e como lidar com este problema.
Sumário
- A mutação do gene MDR1 em cães é perigosa?
- Sintomas da mutação do gene MDR1 em cães?
- Diagnóstico: deteção da mutação do gene MDR1 em cães?
- Tratamento da mutação MDR1 em cães
- Consequências da mutação do gene MDR1 em cães
- A mutação do gene MDR1 em cães tem cura?
- Como proteger os cães da mutação do gene MDR1?
A mutação do gene MDR1 em cães é perigosa?
Esta mutação tem, naturalmente, origem genética e os cães que a apresentam são particularmente sensíveis ou intolerantes a determinados medicamentos. Assim, se o patudo tiver esta mutação tomar uma dose mais elevada desses medicamentos, podem surgir perturbações no sistema nervoso central. Nestes casos, as substâncias dos medicamentos atingem o cérebro sem filtragem, podendo mesmo causar a morte do patudo, nos casos mais graves. Por este motivo, cães com a mutação do gene MDR1 não devem, em caso algum, tomar certos medicamentos.
Raças com probabilidade de apresentar esta mutação
Algumas raças de cães apresentam maior probabilidade de ter a mutação do gene MDR1. Abaixo encontra a lista de raças e a prevalência da mutação, ou seja, a frequência com que ela surge em cada raça:
- Pastor Australiano (17 a 46 por cento)
- Border Collie (1 a 2 por cento)
- Pastor Ingês (7 a 15 por cento)
- Pastor Alemão (6 a 10 por cento)
- Collie de pelo curto (Smooth Collie, 68 por cento)
- Collie de pelo longo (55 a 57 por cento)
- Whippet de pelo longo ou Silken Windsprite (42 a 65 por cento)
- Old English Sheepdog (Bobtail, 1 a 11 por cento)
- Cão de Pastor de Shetland (Sheltie, 7 a 35 por cento)
- Silken Windhound (18 a 30 por cento)
- Pastor-branco-suíço (14 por cento)
- Wäller (17 a 19 por cento)
Investigadores também descobriram a mutação no gene MDR1 em outras raças, como por exemplo, Labradores ou nos Lébrel irlandês. No entanto, estes cães eram portadores heterozigóticos, ou seja, estes cães herdaram o gene defeituoso apenas de um dos progenitores em vez de ambos. Nestes casos, os sintomas são mais ligeiros.
Os gatos também podem ter esta mutação?
Algumas raças de gatos também apresentam a mutação do gene MDR1. E embora a causa da mutação seja diferente, os gatos afetados apresentam sintomas semelhantes aos dos cães.
Esta doença têm uma frequência nos gatos menor do que nos cães e, de acordo, com estudos genéticos, as raças de gatos mais afetadas são:
- Balinês
- Main Coon
- Siamês
- Ragdoll
- Azul russo
- Angorá Turco
Sintomas da mutação do gene MDR1 em cães?
Os cães sem esta mutação têm a barreira hematoencefálica, uma estrutura que filtra a passagem de substâncias do sangue para o sistema nervoso central, totalmente funcional. Assim, nestes cães o cérebro está naturalmente protegido contra substâncias perigosas.
Infelizmente, nos cães com a mutação do gene MDR1 esta barreira não funciona como esperado, permitindo, assim, que as substâncias presentes no sangue atinjam o sistema nervoso central. Assim, sempre que um patudo com esta mutação ingere determinados medicamentos podem surgir sintomas de envenenamento ou intoxicação que nalguns casos são bastante graves, visto que interferem diretamente no funcionamento do cérebro.
Os principais sintomas de envenenamento em cães com a mutação do gene MDR1 são:
- Vómitos ou salivação intensa – sintomas típicos de intoxicação
- Alterações no movimento
- Tremores e tonturas
No entanto, se o cão ingerir uma dose elevada o suficiente para causar um impacto grave no funcionamento do sistema nervoso central, ele pode entrar em coma e, no pior dos casos, morrer.
Quando ir ao veterinário?
Nunca hesite em consultar o seu veterinário se o seu cão apresentar sintomas de envenenamento. Lembre-se que os primeiros minutos e horas são cruciais para conter os efeitos de um envenenamento.
Diagnóstico: deteção da mutação do gene MDR1 em cães?
Atualmente, os veterinários facilmente detetam a mutação no gene MDR1. O diagnóstico implica recolha de uma amostra de sangue, cerca de 0,5 mililitros de sangue total com EDTA, um composto orgânico que serve para fazer o contraste do ADN (ácido desoxirribonucleico). Esta amostra é, então, enviada para um laboratório especializado.
Nos testes em laboratório o material genético, ou seja, o ADN da amostra é extraido para, em seguida, fazer um teste PCR. Este teste permite determinar se existe uma mutação (designada “nt 230 (del4)”) no gene MDR1.
Como se transmite esta mutação?
A mutação MDR1 altera a estrutura do gene, ou seja, faltam quatro pares de bases no gene mutado em comparação com um gene intacto. Esta mutação pode ser herdada de duas formas:
Homozigóticos MDR1 (-/-)
Se ambos os progenitores tiverem esta mutação, o gene MRD1 dos cachorros não tem capacidade para exercer as suas funções. Estes patudos têm, por isso, reações muito graves quando ingerem determinadas substâncias.
Heterozigóticos: MDR1 (+/-)
Quando apenas um dos progenitores é portador da mutação, a descendência é heterozigótica. Por conseguinte, o gene exerce as suas funções, mas de forma limitada. Assim, os patudos apresentam sintomas mais ligeiros de envenenamento.
Tratamento da mutação MDR1 em cães
Visto que esta é uma doença hereditária de caráter genético, não existe um tratamento. No entanto, caso o seu cão sofra um envenenamento devido à mutação do gene MDR1, o veterinário vai intervir no sentido de tratar os sintomas.
Em casos graves, os patudos têm que ser internados num hospital veterinário. Nestas situações, a primeira medida é estabilizar os sinais vitais. Em seguida, o patudo recebe o tratamento adequado para conter e contrariar as consequências do envenenamento.
Que medicamentos são perigosos para cães com a mutação MDR1?
Qualquer cão com a mutação do gene MDR1 não deve, naturalmente, tomar qualquer medicamento suscetível de causar envenenamento.
No entanto, é importante sublinhar que as substâncias perigosas não entram no corpo do cão apenas através da administração de medicamentos. Também estão presente no meio ambiente, por exemplo, em fezes de cavalos que tenham sido desparasitados. Assim, caso o patudo com esta mutação ingira as fezes, ele vai apresentar também sintomas de envenenamento.
Principais medicamentos que não devem ser administrados a raças de cães suscetíveis:
- Ivermectina, selamectina, milbemicina e moxidectina– (antiparasitários)
- Loperamida (antidiarréico)
Os seguintes medicamentos podem ser administrados, mas em doses reduzidas:
- Acepromazina– (tranquilizante fenotíazínico)
- Butorfanol – (analgésico)
- Vincristina, Vimblastina, Doxorrubicina, Paclitaxel– (quimioterápicos)
- Apomorfina – (indutor de vômito)
Importante: nunca dê medicamentos ao seu cão sem contatar primeiro o seu veterinário.
Consequências da mutação do gene MDR1 em cães
Para compreender melhor as consequências da mutação do gene MDR1 nos cães, é necessário compreender para que serve este gene:
- O gene MDR1 tem como função evitar que o cérebro ou os intestinos absorvam substâncias estranhas prejudiciais, como medicamentos ou toxinas presentes no ambiente.
- Também ajuda a excretar rapidamente, através do fígado ou dos rins, substâncias prejudiciais. Este mecanismo é essencial para evitar o envenenamento dos cães.
- Se o gene MDR1 tiver uma mutação, estes mecanismos de defesa não existem e, por isso, os cães afetados são hipersensíveis a determinados medicamentos.
A mutação do gene MDR1 em cães tem cura?
Como mencionado acima, este é um problema genético e, por isso, não tem tratamento ou cura. Assim, o essencial é não dar ao seu patudo qualquer medicamento que possa causar envenenamento. Caso o cão apresente sintomas, deve levá-lo ao veterinário com urgência para minimizar as consequências.
Como proteger os cães da mutação do gene MDR1?
Para ter a certeza de que o seu cão pode tomar medicamentos sem restrições, é aconselhável verificar se ele tem ou não a mutação do gene MDR1. Tal como mencionado acima, o teste PCR é simples de realizar, e os resultados são fiáveis.
Além disso, se pretender reproduzir o seu patudo deve realizar sempre este teste e retirá-lo da criação se o teste indicar que ele tem a mutação, visto que só desta forma consegue evitar que este problema passe a outras gerações.
Importante: Se decidir ter na família um cão das raças frequentemente afetadas, deve perguntar aos criadores ou aos proprietários anteriores sobre o estado do MDR1 do patudo.
Sugestões para dar ao seu patudo uma vida saudável e divertida: